Homenagem do CRESS-SP ao companheiro Ailton Marques

HOMENAGEM DO CRESS/SP AO COMPANHEIRO AILTON MARQUES

A Direção Estadual do CRESS/SP, Gestão “Trilhando a Luta, com Consciência de Classe”, se manifesta sobre o falecimento do companheiro de lutas, o assistente social Aílton Marques de Vasconcelos.

Aílton tinha 42 anos e faleceu em 22 de novembro de 2019, em decorrência de infarto agudo do miocárdio durante uma atividade do SINSPREV – Sindicato dos Servidores e Trabalhadores Públicos em Saúde, Previdência e Assistência Social no Estado de São Paulo- em Serra Negra- SP.

Sua ausência certamente será sentida em todos os espaços que suscitarem a luta política de assistentes sociais com demais setores da classe trabalhadora.

No início de sua atuação no movimento estudantil, em meados de 1998, Aílton entra para o Centro Acadêmico do curso de Serviço Social da PUC-SP e sugere o nome da chapa para concorrer à eleição de “Eros e Tellus”, uma chapa para um centro acadêmico que desvia de nomes normalmente alusivos à luta dos estudantes.

Entretanto, esse Eros não representaria apenas o mito grego do Deus do Amor, mas estava vinculado ao contexto de transformar o caos em que se encontrava o ensino superior com a investida da elitização e a expulsão de estudantes da periferia nas universidades e a busca de unir  todos/as por um ensino de qualidade, vinculado as lutas sociais e com as necessidades dos/as trabalhadores/as e um ensino laico.

Na luta pela permanência de estudantes nas universidades e a ocupação da Reitoria da PUC-SP pelos estudantes no ano de 1999, que lutavam pelo direito de continuar estudando, o movimento uniu os centros acadêmicos e toda a comunidade universitária do país e da América Latina, em tempos que não havia facebook, e culminou com a permanência de todos/as os/as estudantes inadimplentes com a mensalidade na época. O mote era “Nenhum Estudante fora, Educação não é Mercadoria, Redução Já das mensalidades!”. Aliás, frase estampada em camiseta que o acompanhou em sua trajetória profissional e sindical.

Assim, Ailton marca sua trajetória no Movimento Estudantil de Serviço Social a partir do enfrentamento contundente à mercantilização da Educação, com a luta pela permanência do estudante trabalhador na universidade privada, contra a política de cerceamento e constrangimento dos estudantes inadimplentes, contra os reajustes abusivos nas mensalidades, muito movido pelas condições objetivas que teve para ingressar na universidade. Sobretudo, extrapola a realidade imediata do “estudante-trabalhador-filho-da-PUC” ao inscrever-se nesta luta e demarcar o lugar do/a trabalhador/a, que é na universidade e lutando pela universalização do acesso, pela universidade pública, gratuita, laica e de qualidade.

Era destaque nos encontros de estudantes organizados pela ENESSO  (Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social), defendendo bandeiras importantes como a luta pela redução de mensalidades nas universidades privadas. Em 1999, durante o Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social (ERESS) realizado na UNISANTOS, foi eleito coordenador da sub-região e da Região VII (que abrangia a região metropolitana e baixada litorânea do estado de São Paulo). Mas não ficou apenas nessa sub-região: Aílton se tornou um grande articulador das escolas de toda a Região VII da ENESSO (estado de São Paulo), acompanhando os membros da Coordenação Regional da entidade nas atividades que se realizavam nas unidades de ensino com os estudantes. Foi protagonista, inclusive, da organização do primeiro Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESS) que foi realizado no estado de São Paulo, no ano de 2000, em Lins.

Uma das principais características de Aílton no Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS) foi a sua orgânica inserção nos debates que se realizavam nacionalmente pela ENESSO, e não apenas na Região VII. Aílton participava de todos os fóruns nacionais do MESS, e passou a conhecer profundamente todas as 7 regiões da ENESSO, seus militantes, entidades e perspectivas de luta. Sua militância foi imediatamente reconhecida e admirada pelos CA’s e DA’s de todo o Brasil. Participava inclusive de Encontros de outras regiões, sobretudo as mais próximas de São Paulo. A partir de 2000, passou a fazer parte organicamente do movimento “Eu Quero é Mais”, que organizava estudantes de Serviço Social de todo o país e que, à época, estava na direção política da Coordenação Nacional da ENESSO. Além de qualificar politicamente os debates que envolviam as bandeiras de luta dessa corrente, Aílton também contribuía significativamente para a organização da militância e para a elaboração das teses que eram apresentadas nos ENESS.

E mais do que isso. Mesmo nunca tendo sido membro oficial da diretoria nacional da ENESSO, Aílton passou a fazer parte da vida orgânica da entidade, fosse em São Paulo ou nacionalmente. Com uma disponibilidade militante invejável, por muitas vezes, e silenciosamente, contribuía efetivamente com a realização de tarefas cotidianas da própria Executiva – principalmente aquelas ligadas à política de comunicação. Sua contribuição foi determinante para que o primeiro site da ENESSO fosse ao ar, em 2002. Foi também graças a sua intensa participação nacional no MESS que a PUC/SP indicou uma estudante para ser a Representante Estudantil Nacional na ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), eleita na Assembleia Nacional da entidade realizada em Juiz de Fora em 2002.

Sua inserção no MESS foi tão intensa que seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) teve como tema um balanço da história da ENESSO entre 1978 e 2002. Seu TCC tornou-se uma das principais referências no país para quem pesquisa o tema do MESS, e Aílton passou a ser convidado, em razão de seu trabalho, para ser palestrante e debatedor em diversos fóruns do Movimento Estudantil. E no ano em que apresentou seu TCC, o maior resultado de sua inserção nacional no MESS se consagrou: em 2003, pela primeira vez na história da ENESSO, a Região VII assumiu a Coordenação Nacional da entidade, cuja Coordenação Geral teve sede justamente na PUC/SP.

Dividir as trincheiras do movimento estudantil com Ailton Marques era ter a certeza de que onde quer que fosse, não importasse a magnitude do desafio, ele moveria todas as forças que estivessem a seu alcance para que as companheiras e companheiros ao seu lado pudessem cumprir seu papel militante.

Na universidade Ailton se engajou ainda no projeto da recém-criada Unitrabalho, atuando como assistente social. Assessorou, nesse período, as cooperativas dos/as catadores/as de reciclados na cidade de São Paulo. Como sempre, sua atuação era intensa e se tornou uma referência para as cooperativas e se tornou um militante orgânico entre os/as catadores/as. Atuou também no Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns – PUC/SP, da faculdade de Direito, atuando na área de habitação principalmente.

Embora tenha sido curta a participação que Ailton teve na militância no Conjunto CFESS/CRESS, de 2002 a 2004, não deixou de significar expressão da inteireza de sua conduta política intensa e sempre suscitadora de relevantes reflexões e debates.

No ano de 2013, Ailton é convocado a ingressar no INSS, onde dá início a sua carreira profissional com valiosas contribuições, inclusive em Grupos de Trabalho pela DSS (Divisão do Serviço Social), na qual fazia questão de consultar colegas de diversas APSs do Estado de São Paulo (Agência da Previdência Social).

Essa forma sagaz de contatar colegas de diversos locais de trabalho fez com que iniciasse um processo de aproximação que pode se aprofundar com a histórica Greve do INSS em 2015. Com muita tática, se aproximou do Sindicato, e logo inseriu-se no Comando de Greve, participando das atividades de construção da greve a nível Estadual e Nacional. Foram 3 longos meses de dedicação e atuação junto à luta da categoria.

Com o encerramento da Greve, que foi considerada vitoriosa, Ailton não mais deixou de participar dos espaços de construção coletiva de luta da categoria. Junto aos demais colegas, em nível nacional, passou a rearticular a organização dos/as Assistentes Sociais por meio da FENASPS, entendendo que deveria fortalecer o Serviço Social junto da pauta geral da categoria, e assim, também, os instrumentos de luta dos/as trabalhadores/as.

Através dessa articulação, após o Encontro Nacional dos Assistentes Sociais organizado pela FENASPS e CFESS no ano de 2016, foi então constituída a Comissão Nacional de Assistentes Sociais da FENASPS. Essa comissão teve a tarefa de debater as questões que envolviam o Serviço Social Previdenciário, no que tange às suas atribuições específicas e técnicas operativas, e assim subsidiar a entidade sindical nas pautas específicas para as mesas de negociação junto ao governo.

Com a crise econômica e o acirramento político, o Serviço Social Previdenciário era cada vez mais alvo de ataques, sofrendo com ameaças e medidas de desmonte e extinção, além da violação de matéria ética e técnica do Serviço Social. A atuação do camarada na Comissão foi fundamental para articulações e estratégias de enfrentamento, como na ocupação do Ministério da Assistência Social em 2017, e na ocupação da DIRSAT em 2018.

Em 2017, Ailton participa da CONFENASPS e integra a Chapa Mudança e Renovação, sendo indicado por seus pares para compor a Direção Colegiada da FENASPS, e assim, se retira da Comissão por entender que não caberia dupla representação num mesmo espaço, e que estava assumindo um mandato classista, e junto com seu Coletivo Sindical Estadual fez a defesa de renovar e construir novos quadros para compor a Comissão com novas representações de base.

Em 2018 construiu Tese com o Coletivo Sindical Democracia e Luta para o CONSINSPREV, com uma atuação importante para a organização desta força política que o reivindicou para estar na Direção do SINSPREV. Também na sua trajetória no INSS esteve presente em diversas reuniões de articulação entre as entidades sindicais e com o Conjunto CFESS/CRESS. No mesmo ano, no Ato da fusão das organizações políticas MAIS e a NOS, ingressou como militante para as fileiras da RESISTÊNCIA/PSOL, dedicando-se no setor dos previdenciários.

Era considerado um militante disciplinado e centralizado. Colocava as tarefas políticas como prioridade, cumprindo-as para depois confraternizar com os camaradas, e exigia a mesma postura de seus companheiros/as, o que muitas vezes trazia pra si a impressão de ranzinza. E assim, sustentava suas posições políticas com firmeza e incidia no convencimento de forma incisiva, o que poderia incomodar alguns. Era metódico com as suas anotações, a famosa “listinha”, buscava a inovação e tecnologias como meios de dialogar e inserir a categoria nos debates sindicais.

Ailton era INCANSÁVEL!

Tombou na luta, que não era uma luta só pelo Serviço Social, era uma luta pelos Serviços Previdenciários, pelos demais colegas da Carreira do Seguro Social e por todos os trabalhadores.

Perdemos um combatente, um COMUNISTA daqueles que a teoria não pode ser separada da práxis, daqueles que a moral revolucionária norteava suas ações na vida pessoal e na militância.

Era um amigo boêmio, atencioso e muito companheiro. Estava atento a tudo o que acontecia com os/as amigos/as, e se envolvia intensamente em poder contribuir com eles/as, acadêmica ou pessoalmente. Nos tempos de MESS, foram muitos os militantes que vinham de vários pontos do país e dormiam em sua casa, na periferia de São Paulo, e acompanhava-os em todas as atividades políticas.

Apesar da dura conjuntura em que nos encontramos, Ailton vivia seu melhor momento, combinando a vida pessoal, profissional e acadêmica com a militância política e sindical. Havia entregado a Tese de doutorado, era cuidadoso e dedicado com a família e com os amigos.

Sua linda e afetuosa mãe deu a ideia de realizar a defesa simbólica de sua tese de doutorado com a presença da banca para lhe auferir o título de doutor em Educação, concluída há poucos dias. Falaria no Ato organizado que se realizará no próximo dia 04/12, às 19 h, na PUC-SP, em defesa da Previdência e do Serviço Social.

A lembrança de Ailton Marques é o seu legado inconscientemente ligado a Eros e a Psique, no poema do Cancioneiro de Fernando Pessoa. O Eros em Aílton estava relacionado à pessoa que se une às outras, em torno de um significado que representa a busca do conhecimento de si mesmo e do outro, que busca desvelar o obscuro e a consciência que desperta para a realidade.

Em sua despedida, familiares, amigos/as, cantaram a música “Canto Lunar” (que ele amava), do grupo Tarancon. Lembraram do “Pequeno perfil de um cidadão comum”, de Belchior, finalizando a despedida com a Internacional.

Luta que segue!

Ailton nos deixa um enorme legado na luta por liberdade e igualdade na direção da emancipação humana.

“Mas cada um cumpre o Destino –

ela dormindo encantada,

ele buscando-a sem tino

pelo processo divino

que faz existir a estrada”

Eros e Psique – O Cancioneiro de Fernando Pessoa  

Aílton Marques, presente!

Direção Estadual

Conselho Regional de Serviço Social – 9º Região/SP

Gestão  “Ampliações – Trilhando a Luta, com Consciência de Classe” (2017/2020)

Colaboraram nesta homenagem os/as assistentes sociais:

Charles Toniolo de Sousa

Ítalo Marcos Rodrigues

Giselle Cristine Muniz

Maria Beatriz Costa Abramides (Bia)

Márcia Merisse

Andresa Lopes dos Santos

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