Manifesto em Solidariedade e Apoio à NenêSurreal
Dolorido, as marcas do machismo e racismo que nos açoitam todos os dias. Mais doído é quando parte de membros de movimentos do qual participamos e apoiamos – muitas das vezes tirando do pouco que temos no bolso – por acreditar que a luta por acessos, espaços de acolhida e estímulo à arte e formação do povo pobre e em sua maioria negra.
Todas as mulheres pretas do graffiti deram passos gigantes para fora da lógica social que nos determina papéis muito específicos, aqueles já muito conhecidos, inclusive em relação às mulheres brancas. Mostraram-se avessas a esses papéis ao pegar os sprays, os pincéis, quando criaram, quando produziram arte – que por muito tempo nos foi tirada – quando colocamos nossos corpos na rua de forma inesperada, como queremos que estejam: protagonistas de nossas expressões, histórias e discursos.
Nenêsurreal é uma mulher preta de 51 anos, artista, que está recebendo ameaças e perseguição por parte de outros que se dizem do movimento Hip Hop, mas que não têm respeito pela luta das mulheres, nem pela luta contra a LGBTfobia, fazendo uma série de ameaças e comentários lesbofóbicos a respeito da Nenê. Pessoas que se dizem do Hip Hop, mas continuam alienadas e repetindo o discurso sistêmico que visa nos dividir e que traz a guerra entre nós quando o movimento nasce justamente para que se vislumbre quem é nosso verdadeiro algoz: o sistema que se alicerça sobre tudo o que divide a classe trabalhadora, da qual todos fazemos parte, através de racismo, machismo, LGBTfobia e demais preconceitos que criem pequenos privilégios para que poucos de nós se comportem como vilões de seus pares, verdadeiramente dando tiro no pé.
Há bastante tempo a artista vem sendo alvo de ataques diretos, como historicamente é feito a mulheres negras que se posicionam contra as situações vigentes.
Desta vez os agressores aproveitaram uma entrevista da Nenê, publicada no site Huffpost Brasil, com o título “NenêSurreal: Mulher preta, periférica, mãe, avó, sapatão e grafiteira”, e fizeram um meme expondo a artista, que foi bombardeada com uma série de ofensas misóginas e lesbofóbicas. Após denúncias do coletivo Effemeras e posicionamento de outras artistas, a publicação foi excluída. O ódio vindo desses homens brancos, lesbofóbicos e misóginos nasceu há três anos, quando durante uma reunião na Casa do Hip Hop de Diadema Nenêsurreal se posicionou contrária ao machismo proferido pelos presentes: Todos homens, ela era a única mulher.
Precisamos dividir os pesos, assumir a responsabilidade nas lutas pela igualdade de cor e de gênero, o respeito a comunidade LGBT, com o intuito de tornar a sociedade um espaço melhor
para todos/as. O quê você tem feito para melhorar o mundo para as pessoas?
O movimento Hip Hop e admiradores, todas as mulheres e homens que acreditam na luta contra o racismo, contra a LGBTfobia, e contra a misoginia, estão sendo convocados a conhecer o trabalho da Nenêsurreal e de outras tantas mulheres negras no HipHop e juntar-se a nós em defesa e na proteção dessa voz tão importante para as mulheres negras, para o graffiti, artes visuais e lutas sociais. Toda omissão fortalece a agressão e a injustiça.
NenêSurreal NÃO está sozinha. Estamos todas de mãos dadas nos posicionando contra a exposição online da qual foi vítima, contra os comentários ofensivos proferidos e em defesa da vida, da saúde mental e emocional desta mulher.
As dores de Nenê são nossas: estamos todas sangrando junto e estaremos em toda e qualquer luta que terá que travar para despertar a consciência desses que pensam que não sangramos, que nossos corpos e sentimentos são menos humanos e passíveis de cuidado e acolhimento.
Tem sido nós por nós, mas partiremos em busca de mais sempre e a nossa luta deve ser a luta de toda a sociedade. Quando uma mulher preta avança, o homem preto avança com ela. É assim que deve ser: Juntos!
Paz entre nós e guerra aos senhores deveria ser nosso mote.
É muito grave o ocorrido, mas nós estaremos juntas e venceremos.
Direção Seccional Santos
Gestão Luta, Ousadia e União para Fortalecer a Profissão