II Webinário COFI reflete sobre a realidade dos/as assistentes sociais nos diversos espaços sócio-ocupacionais durante a pandemia

O Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo — 9ª Região (CRESS-SP), por meio da Comissão de Orientação e Fiscalização (COFI), realizou o II Webinário 2020. O encontro foi promovido via canal oficial do CRESS-SP na plataforma YouTube, na noite de segunda-feira, dia 14.

O evento foi dividido em webmesas e moderado por Regiane Ferreira, assistente social, Conselheira Estadual e coordenadora da COFI. A conferência trouxe o tema Pandemia e Serviço Social: Qual a realidade do/a assistente social nos diversos espaços sócio-ocupacionais?”, que foi discutido por representantes da assistência social, saúde, previdência social e do campo sociojurídico. Além disso, contou com a participação especial da da professora doutora em Serviço Social, Rosa Lúcia Prédes.

Ao todo, foram cinco profissionais que discorreram sobre as mais diversas realidades da profissão em época pandêmica, refletindo sobre as condições de trabalho, oportunidades e dificuldades nas diversas localidades. Dentro de suas áreas de atuação, as representantes foram Gisele Cristiane de Freitas, previdência social; Ivani Ribeiro, sociojurídico; Liliane Caetano, saúde; Michelle Dias, assistência social.

Foi uma discussão bastante reflexiva, idealizada com o objetivo de analisar o impacto da pandemia no cotidiano de trabalho (tanto remoto quanto na linha de frente), e os/as internautas puderam participar através de interações no bate-papo on-line.

A troca de experiência entre os/as profissionais é um dos pilares para a sustentação da união entre a classe, permeando conhecimentos e colaborações para uma atuação profissional mais justa, apesar das dificuldades do dia a dia.

Entre os tópicos discutidos, destacou-se a importância da análise da realidade dos/as profissionais em meio à pandemia, confrontando as dificuldades existentes e a permanência da atuação com qualidade, equidade e determinação, em busca dos direitos da população.

 

Fundação Casa

A primeira a explanar foi Ivani Ribeiro, assistente social com atuação na Fundação Casa – São Bernardo I. A profissional falou sobre as dificuldades de atuação trazidas pelo distanciamento social imposto pela pandemia. Todas as atividades tiveram que ser reinventadas, as intervenções e orientações foram prejudicadas pelo distanciamento.

Essa separação, segundo a profissional, foi um dos fatores mais prejudiciais na atuação do/a assistente social na era pandêmica, pois o contato com familiares é de extrema importância para os/as jovens. Além disso, todos os cuidados necessários para a prevenção da COVID-19 foram tomados, na tentativa de assegurar a saúde de todos/as os/as envolvidos/as.

Enquanto profissional, ficou tudo muito prejudicado pelo distanciamento social, pois ele dificultou nosso atendimento, nosso cuidar dos/as jovens e familiares, de modo geral. Todas as nossas ações judiciárias, pedagógicas, assistenciais foram prejudicadas pelo trabalho remoto, mas tudo isso foi necessário para a preservação de nossos públicos. Estamos fazendo o nosso melhor.

 

CAPS MAUÁ

Liliane Caetano atua no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Mauá, e no Hospital das Clínicas (HC), na cidade de São Paulo, no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, fazendo acompanhamento em saúde para a população trans, crianças, adolescentes e adultos.

Liliane Caetano – assistente social

A participante iniciou prestando homenagem a uma colega de trabalho, que faleceu vítima da COVID-19, e discorreu compartilhando suas experiências nas diversas questões de trabalho na saúde. Falou sobre a sobrecarga de trabalho, de informações, falta de organização nas políticas públicas e da necessidade de adaptação tanto no CAPS quanto no HC.

A profissional acredita que existe uma necessidade muito grande de a classe repensar as condições de trabalho dos/as assistentes sociais na pandemia. O distanciamento social e a imensurável quantidade de informações colocaram os atendimentos em situação de vulnerabilidade, o que gerou um estresse muito grande nos/as trabalhadores/as.

Para Liliane, os/as profissionais tiveram uma pressão e sobrecarga descomunais dentro da área de atuação, com violação de direitos, desgastes emocionais e alteração frequente de rotina. Segundo a profissional, muitos/as trabalhadores/as não tiveram os direitos assegurados de afastamento, garantidos dentro das políticas públicas. Além disso, no atendimento à população, ela viu a violência contra esse grupos crescer, aumentando a sua vulnerabilidade e a necessidade de atendimento.

A assistente social concluiu dizendo que o Serviço Social tem um papel muito importante na questão de articulação e cuidados, em todos os âmbitos de atuação, e que é necessário pensar em políticas que garantam os direitos dos/as profissionais, bem como viabilizem as melhores condições de atuação, para que todos/as sejam atendidos/as adequadamente e as situações não sejam ainda mais agravadas.

 

INSS

Gisele Freitas, assistente social do INSS desde 2009 e há quatro anos gestora técnica de unidade em São José dos Campos, trouxe a necessidade e importância do debate sobre a atuação profissional neste período, considerando as melhores práticas de atendimento para públicos digitalmente excluídos.

Ela expôs a fragilidade de uma atuação sobrecarregada de serviços e de cobranças quantitativas de um trabalho por pontuação, justamente pelo enfrentamento do desempenho da atividade a distância, a banalização do sigilo de dados das pessoas atendidas pelo INSS e vanglorização da polivalência, abrindo um questionamento sobre a qualidade dos serviços.

Para a profissional, é necessária, neste momento, a união dos/as assistentes sociais para uma organização da categoria na pandemia. “Precisamos manter a qualidade dos nossos serviços. Verificar e desempenhar as nossas funções, mesmo a distância, com a máxima qualidade possível, pois nosso objetivo principal é garantir os benefícios e direitos das pessoas”.

Gisele citou, ainda, as questões, na era pandêmica, com a saúde mental dos/as trabalhadores/as, apontando os aspectos negativos da remotização dos atendimentos, do distanciamento e da desvalorização do trabalho. Para ela, é necessário pensar na sanidade dos/as profissionais e em políticas públicas para a retomada, considerando as condições de trabalho e um atendimento seguro para todos/as.

 

SUAS

No Sistema Único de Assistência Social (SUAS) – Centro de Defesa e Convivência da Mulher, região do Lajeado, extremo da Zona Leste de São Paulo, capital, Michelle Dias atua no atendimento a mulheres em vulnerabilidade social. Ela pontuou que o desafio de ser assistente social no contexto de pandemia se agrava, mas que gera uma série de oportunidades.

De acordo com Michelle, é um desafio realizar atendimento remoto a mulheres em vulnerabilidade, violentadas, principalmente em casa, justamente pela dificuldade que esse público enfrenta para acessar os meios digitais.

 

A violência contra a mulher também se tornou uma pandemia. Muitas mulheres perderam seus espaços e o atendimento remoto dificultou ainda mais o diálogo e a seguridade da intimidade das conversas. Devemos aqui pensar em soluções práticas e seguras de como realizar o atendimento desse público remotamente.

 

Ainda neste contexto, Michelle levantou alguns questionamentos sobre o trabalho remoto dentro da realidade em que atua, sobre as desvantagens técnicas, violações de direitos dos/as assistentes sociais, fechamento de serviços, exploração do trabalho e desqualificação dos direitos dos públicos atendidos.

Inúmeros fatores foram expostos na tentativa de a classe pensar e reunir informações que possam vir a contribuir para um trabalho mais justo, coerente, determinado e para que os/as assistentes sociais tenham, além da maior visibilidade, condições reais de atendimento equitativo para todos os grupos assistidos.

 

Reflexões da especialista

Rosa Prédes – professora da UFAL

Para complementar as linhas explanadas, Rosa Prédes, convidada especialista , trouxe uma perspectiva de análises reflexivas para que os/as assistentes sociais não entrem em desespero. Doutora em Assistência Social, a profissional falou em superação, por meio de contribuições que podem potencializar a luta pelos direitos da população.

Rosa disse que o desgaste está em os/as profissionais terem ciência de que todas essas situações de dificuldades, distanciamentos, ausência de políticas públicas e de condições coerentes de trabalho não são nada naturais. Ela ressaltou, ainda, que os/as profissionais não devem cair na ideologia do heroísmo, pois esta condição pode afetar os preceitos da ética profissional, sobrecarregar ainda mais os/as trabalhadores/as e contribuir para a perda de direitos dentro da atuação em assistência social.

Trouxe à reflexão os problemas da fragilização das condições de trabalho e dos vínculos empregatícios e do exercício remoto do trabalho profissional.

Apesar de toda a conturbada realidade em que os/as profissionais atuam, na pandemia, é necessário pensar em soluções e respostas quanto a que requisições e atribuições assistentes sociais devem aceitar, uma vez que a situação desordenada cria caminhos que facilitam a atuação sem reflexões de causas e efeitos.

Argumentou, também, que o acesso às tecnologias, apesar dos percalços e do distanciamento, permite novas possibilidades, ressaltando o papel dos/as assistentes sociais como articuladores/as de serviços, movimentos em entidades e redes sociais, dando fala aos sujeitos mais coletivamente e se aproximando cada vez mais dos públicos.

O momento, agora, é de pensarmos no papel do/a assistente social juntamente com a vacinação, pois acredito que a crise sanitária irá se estender, mexer com a saúde e a segurança de todos/as. E não podemos entrar no ilusionismo da cessão dos problemas, pois muitos/as não terão seus direitos em garantia. Vamos pensar em soluções de manutenção da saúde coletiva e nos princípios éticos para organizar todas as questões sociais

 

 

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