Conferência do Dia do/a Assistente Social refletiu sobre os desafios da profissão na conjuntura

As questões enfrentadas hoje pelo Serviço Social, os graves problemas expostos pela pandemia da Covid-19 e estratégias de combate ao neoconservadorismo vigente estiveram na pauta do dia. Realizado por meio de live, evento marcou o início da nova gestão do CRESS-SP.

 

O Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo 9ª Região (CRESS-SP) realizou na tarde do último sábado, 16, a Conferência em Comemoração ao Dia do/a Assistente Social, celebrado em 15 de maio. Em decorrência das recomendações de distanciamento e isolamento sociais na pandemia da Covid-19, o encontro foi promovido no formato de live, com transmissão ao vivo pelo YouTube, possibilitando o engajamento de toda a categoria. Mais de cem participantes, de São Paulo e outros estados, acompanharam a programação e interagiram por meio de chat. Até a quarta-feira, 20, o evento havia ultrapassado o número de 800 visualizações.

Homenagens e lançamentos na troca de gestões do CRESS-SP

Abrindo a agenda da conferência, uma cerimônia concretizou o encerramento da gestão do CRESS-SP Ampliações: Trilhando a Luta com Consciência de Classe (2017-2020) e o início da gestão Ampliações: Em defesa do Serviço Social, nos encontramos na luta! (2020-2023). Com apresentações emocionantes, Kelly Rodrigues Melatti, presidenta do CRESS-SP em 2017-2020, e Nicole Araujo, presidenta eleita da gestão 2020-2023, realizaram seus discursos e homenagens.

Em entrevista, Kelly falou sobre o legado de sua gestão. “O triênio 2017-2020 foi marcado por muitos acontecimentos, que exigiram muita dedicação e prontidão da gestão do CRESS-SP, somando nas lutas em defesa da profissão e conectado com as lutas mais gerais da sociedade. Nesse final, o que fica é indignação frente ao cenário conjuntural do País, mas, ao mesmo tempo, o sentimento de tranquilidade, pela convicção de que trilhamos a luta do lado certo da história, com a consciência da classe a que pertencemos”, comentou. Nicole resumiu suas principais expectativas para o próximo triênio, enfatizando o compromisso da nova gestão com a categoria, a classe trabalhadora e a democracia. “Espero que este seja um triênio produtivo. Que possamos comunicar, orientar e dialogar com a categoria, direcionados pelo projeto ético-político da nossa profissão. Nós temos compromisso com uma gestão democrática e colegiada, que dialoga com a categoria”, afirmou.

A gestão 2017-2020 apresentou a 5ª edição da revista Emancipa: o cotidiano em debate — O trabalho de assistentes sociais frente ao neoconservadorismo, que entrará em circulação em breve e estará disponível na sede do CRESS-SP e nas Seccionais, e anunciou as publicações da Nota Técnica “Assistentes Sociais em Conselhos de Direitos: possibilidades de afirmação das Bandeiras de Luta do Conjunto CFESS-CRESS”, elaborada pela Comissão de Trabalho Profissional e Organização Política (CTPOP), e do Caderno de Posicionamentos, que reúne todos os posicionamentos do triênio. Também foram lançados os vídeos “Gestão Ampliações: Trilhando a Luta, com Consciência de Classe (2017-2020) e Femenagem da nova gestão do CRESS-SP (Triênio 2020-2023).

Nicole Barbosa Araújo (Presidenta do CRESS-SP para o triênio 2020-2023) e Kelly Melatti (Conselheira do CFESS para o triênio 2020-2023)

 

Debate e reflexões atuais para a categoria

A transição de gestões foi seguida pelo debate sobre o tema Trabalhamos em vários espaços, sempre com a população. Serviço Social: conheça e valorize essa profissão.

Na palestra da professora da PUC-SP Maria Beatriz Abramides, referência na área de Serviço Social, a conjuntura esteve no centro das reflexões. Entre diversos aspectos problemáticos da programática neoliberal adotada no Brasil desde a década de 1990, foram enfatizados os impactos devastadores da PEC 95, da contrarreforma trabalhista, da desregulamentação das relações de trabalho e do desfinanciamento e desestruturação das políticas de assistência social e políticas sociais, como um todo. “Esta pandemia escancara a desigualdade e o seu aprofundamento, o que é intrínseco ao modo de produção capitalista. Os/as assistentes sociais, que, junto com outros/as profissionais estão em linha de frente, estão se colocando criticamente, fazendo o trabalho naquilo que é da sua função e, muitas vezes, não sem ataques”, apontou a professora.

A precarização do trabalho e da educação na área de Serviço Social, os problemas da “institucionalização” da atividade, o autoritarismo, a capacidade de resposta dos/as assistentes sociais e a discussão do piso salarial estiveram na fala de Patrícia Ferreira da Silva, vice-presidenta do CRESS-SP na gestão 2017-2020. “A instância de valorização da profissão também passa pelo Congresso, pelas decisões de legislação, pelas instituições empregadoras, pelas entidades dessa profissão. E, obviamente, os primeiros responsáveis pela valorização da profissão são os seus sujeitos, somos nós, assistentes sociais”, destacou Patrícia. Para ela, a formação, o trabalho e a organização política devem estar articulados para se desenvolver um processo de valorização do Serviço Social com um norte político e ético bem solidificado.

Patrícia Maria da Silva, Diretora Estadual na nova gestão e integrante do Comitê da Campanha Assistentes Sociais no Combate ao Racismo do CRESS-SP, abordou a questão étnico-racial na perspectiva da atuação de assistentes sociais. Ela destacou a importância de entender a fundo a história brasileira e de seu povo para que não se repita a narrativa dos colonizadores, assim como a necessidade de se incluir o debate étnico-racial nos currículos de Serviço Social como disciplina obrigatória. A diretora chamou atenção para o fato de que, na pandemia da Covid-19, só depois de pressões do movimento social negro, o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde dos estados e municípios passaram a divulgar o pertencimento étnico-racial das vítimas da doença. E os números mostram que a população mais atingida é a negra. Segundo Patrícia, é questionável dizer “fica em casa” quando não há casa nem política habitacional, quando há violência doméstica e fome. “Esse é o reflexo de uma abolição [da escravatura] que ainda não chegou”, concluiu.

A audiência contribuiu com perguntas, entre outras, sobre a atuação profissional do/a assistente social no contexto da pandemia, a projeção do cenário social pós-pandemia e a eficiência das ações imediatas na crise atual. “Temos que pensar que a vida social é uma processualidade e, cotidianamente, extrair lições das nossas lutas. Então, nós não podemos pensar o pós-pandemia como algo abstrato”, avaliou Maria Beatriz Abramides, para quem é necessário tratar as projeções do cenário pós-pandemia partindo das condições concretas e objetivas que permeiam o cenário presente.

“Neste momento, é preciso entender que a atuação do/a assistente social nas diversas frentes dos serviços essenciais é de fato importante. O que precisamos fazer é lutar para garantir a proteção da saúde e da vida desse/a trabalhador/a”, ressaltou Patrícia Ferreira. Patrícia Maria indagou sobre os desafios para a execução do trabalho. “Os desafios não se dão neste momento. Eles são anteriores à Covid-19 e se mantêm hoje em estado agravante. É preciso estruturarmos juntos/as de que forma podemos articular e pensar uma organização, para que todos/as os/as  trabalhadores/as possam executar suas atividades de maneira digna e segura. Mas, em linhas gerais, é preciso pontuar que a organização é coletiva e não podemos perder a noção de coletividade, principalmente neste momento atípico”, salientou.

A conferência que deu a largada para um novo triênio de gestão no CRESS-SP reafirmou o compromisso do Conselho e da categoria de assistentes sociais com a continuidade do debate sobre a conjuntura e o papel do Serviço Social frente ao avanço de um projeto neoliberal e neoconservador que segue avançando no Brasil e no mundo. A necessidade de uma forte articulação com movimentos sociais, do combate ao racismo, da autonomia de classes e, ao mesmo tempo, da unidade da classe trabalhadora, e a busca por um espaço de organização política para além da profissão foram apontados como caminhos presentes e futuros para a atuação dos/as assistentes sociais, sempre na defesa intransigente dos direitos humanos. “A obra de um processo histórico-revolucionário será da classe trabalhadora”, afirmou Maria Beatriz Abramides. Patrícia Maria, citando a escritora Conceição Evaristo, finalizou: “Nos encontramos na luta”.

 

 

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