Encontro contou com Intervenções culturais e debates sobre a profissão
No último sábado (15), o Conselho Regional de Serviço Social – 9ª Região, CRESS-SP, promoveu a I Assembleia Ordinária de 2023. O evento foi realizado no Novotel Jaraguá, no centro de São Paulo, e contou com representantes das diversas seccionais do estado além de muitas/os assistentes sociais, totalizando quase 190 pessoas no auditório.
O encontro foi aberto com um sarau, onde os participantes recitaram poesias e cantaram algumas músicas. Em seguida, foi iniciado a leitura e aprovação do Regimento Interno.
No prosseguimento do evento, ocorreu a mesa de abertura, reunindo representantes de órgãos do Serviço Social. Quem abriu os debates foi Alan, da Enesso (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social), que afirmou que a organização é um local de resistência e luta contra o Capitalismo e o Conservadorismo.
Ubiratan Dias, do CFESS (Conselho Federal de Serviço Social), exaltou que a Assembleia é um local de enriquecimento político, técnico e cultural. Disse também que a profissão é essencial para o Brasil, e que seu reconhecimento é fundamental para o avanço dos trabalhadores brasileiros. Lembrou das dificuldades causadas pelo governo anterior, mas comemorou o novo governo Lula: “O início nos trouxe esperança”.
Terezinha Rodrigues, da ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), elogiou a abertura cultural realizada e o reconhecimento pelos 60 anos do CRESS-SP. Em seguida, fez reflexões sobre o contexto da formação dos Assistentes Sociais e do ensino em geral no Brasil. Por fim, relembrou da necessidade de união para fortalecimento da categoria.
A Presidenta do CRESS-SP, Patricia Maria, fez uma saudação as/aos representantes das seccionais, e destacou a diversidade entre as gestões. Lembrou das dificuldades que o governo anterior causou e como isso impactou o Brasil num todo e a direção passada. Ao final de sua fala, ressaltou a emoção pela realização do primeiro evento da gestão: “Motivação para combater as desigualdades”.
Na sequência, foi iniciada a Análise de Conjuntura e do trabalho profissional. A Dra. Cláudia Adão abriu a mesa apresentando sua ancestralidade e como ela a representa. Falou de sua infância com a mãe e como ela fazia tranças em seu cabelo. Relatou que sofreu preconceito na escola por conta de seu penteado, e que por conta disso, pediu para a mãe mudar, mas ela não lhe atendeu para que não sentisse vergonha, isso fez com que seguisse com as tranças. Com isso, aprendeu a sentir orgulho de seu penteado, e o levou para todas as fases de sua vida: “Meu cabelo virou minha coroa”.
Fez a sua análise baseada no Racismo Estrutural. Afirmou que tudo começou com o que definiu como “falsa abolição”, que criou uma extensa segregação urbana e racial, em que destacou que os mais ricos seguem morando nos bairros mais estruturados e que a população negra e pobre segue vivendo em locais periféricos e precários.
Relatou que o Racismo Estrutural foi criado pelo Estado e a precarização das vidas negras. Elencou dois motivos iniciais que iniciaram isso:
- Lei de terras: Territórios seguiram nas mãos dos ricos;
- Lei dos Imigrantes: Embranquecimento da população.
Cláudia também evidenciou o constante crescimento da violência com a população negra, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 78 eram negras. Além disso, os negros representam:
- 77,6% das vítimas de homicídio doloso;
- 67,6% das vítimas de latrocínio;
- 84,1% dos mortos pelas polícias;
- 67,7% dos policiais assassinados;
- 67,5% da população prisional.
Também lembrou que os negros foram os mais afetados pela pandemia de COVID-19, segundo dados do IBGE, mostrou que mulheres, negros e pobres foram os mais afetados pela doença. A cada dez pessoas que relataram mais de um sintoma, sete são pretas ou pardas. Esse padrão se explica por desigualdades sociais e pelo preconceito destacados por Cláudia.
Terminou sua fala ressaltando a resistência negra, que nunca assistiu as barbáries feitas com seu povo de forma passiva, e lembrou das estratégias e organização vindas dos quilombos e encerrou cantando a música “Meu Quilombo tá lindo com o quê”.
Em seguida, a Dra. Maria Helena Elpidio agradeceu o convite e a satisfação em participar do evento, e destacou que a Assembleia é um local de boas energias. Abriu sua fala falando sobre a dureza do racismo silencia e também tocou no ponto do genocídio contra negros: “Queremos plantar gerações e não cruzes”.
Mostrou como a sociedade e a mídia não se importam com os negros e que as barbáries que são feitas são vistas como normais, o que chamou de “banalização da vida” por parte da burguesia branca, heteronormativa, sexista, xenofóbica, conservadora e fascista.
Também evidenciou que o Racismo é estrutural e não uma “mera” expressão da questão social. Falou sobre a naturalização das desigualdades justificadas a partir das diferenças biológicas. Comentou também sobre a divisão racial, sexual e territorial do trabalho.
Fez críticas sobre a construção histórica para garantir a colonização e o imperialismo e a construção da ideia de inferioridade e desumanização para justificar a dominação capitalista e a divisão social, sexual, racial e territorial do trabalho.
Depois das apresentações, foi realizada uma rodada de debates, em que os principais temas indicados foram: Defesa da entidade; Defesa da qualidade dos serviços prestados, políticas sociais e direitos humanos.
Para finalizar o período da manhã, foi feito o balanço da gestão do CRESS-SP e apreciação do Relatório de Gestão de 2022. Em seguida, houve intervalo de uma hora para o almoço.
Já no período da tarde, tivemos uma nova Intervenção Cultural, desta vez com a artista, mulher travesti atípica, Uma Luiza, que encontra na música uma estratégia de enfrentamento e diálogo com seu território e com as pessoas. Sua música intimista e autoral, experimenta os sons e ritmos a partir da percussão e da voz com o auxílio de pedais eletrônicos para produzir intervenções/interferências sonoras, cantigas, poesias e contar histórias.
Na sequência, a plenária foi separada em 4 grupos para as discussões do planejamento, que serão incorporadas às deliberações da região sudeste que serão debatidas no início de agosto, em São Paulo
- Sala A: Orientação e Fiscalização Profissional;
- Sala B: Ética e Direitos Humanos;
- Sala C: Administrativo Financeiro; Relações Internacionais; Comunicação;
- Sala D: Formação Profissional; Seguridade Social.
Após os debates, as propostas de cada eixo temático foram apresentadas pelas/os relatoras/es eleitas/os no grupo para a plenária final. A votação foi encaminhada para garantir legitimidade aos debates, apesar de ser simbólica nesse momento.
Antes do encerramento, foram apreciadas e votadas três moções, sendo duas de apoio e a terceira de repúdio. As moções estão disponíveis aqui.
Eleição da delegação do CRESS-SP
Antes do término da Assembleia, foi realizada a votação das/dos delegadas/os que irão irá representar a categoria profissional do estado de São Paulo nos Encontros Descentralizado Sudeste, que será realizado em agosto na capital paulista, e Nacional, no mês de setembro, em Brasília (DF).
A Assembleia escolheu a comissão composta por seis participantes, para realizar a coleta e contagem de votos. Ao todo, candidataram-se quinze assistentes sociais, trabalhadoras/es de diversos espaços sócio ocupacionais, militantes de movimentos sociais. Apenas as/os participantes com direito a voto participaram, registrando o voto em até catorze nomes aptos à eleição, em cédula entregue no ato do credenciamento, devidamente identificada pelo Conselho.
Encontro CRESS/Seccionais
Como de costume, sempre no pré e pós Assembleia, a direção estadual do CRESS-SP convoca as/os representantes de seccionais para que participem de reuniões com o objetivo de planejar e alinhar os debates que serão feitos na Assembleia, e para que realizem a avaliação pós evento.
O 1º encontro do triênio antecedeu a Assembleia, na sexta-feira, espaço em que as Seccionais apresentaram suas expectativas em relação ao planejamento para os próximos três anos e trouxeram um panorama dos primeiros 60 dias das gestões. Já no domingo, as direções avaliaram a Assembleia e a sua organização.