Créditos: Tina Mariah | Fotos: arte de Tamikuā Txihi e CFESS
O Conselho Regional de Serviço Social, CRESS-SP, realizou nesta quarta-feira (14) live como programação do Dia de Assistente Social. Com o tema “Serviço Social na luta por justiça ambiental para a diversidade de povos e biomas”, mesas de discussões temáticas, intervenções culturais, bate-papo e muita luta envolveram a noite.
As assistentes sociais Andresa Lopes e Bárbara Parra mediaram os encontros recheados de conteúdos importantes com profissionais, pessoas e companheiros de luta. Andresa lembrou dos desastres climáticos que a humanidade tem passado, principalmente no Brasil, e como os assistentes sociais têm atuado neste contexto de devastação ambiental causada pelo capitalismo. Bárbara falou sobre a atuação do conjunto CFESS-CRESS na relação com a categoria que tem trazido como urgência nas suas trajetórias.
Intervenção cultural
Em um segundo momento, houve Intervenção Política Cultural com o Coletivo FeminismoComunitário Abya Yala, este teve início na Bolívia e hoje possui trabalho em sete países. Foram apresentadas as obras artísticas da indígena Tamikuã Txihi, que contém murais, painéis, esculturas e uma diversidade imensa de expressões originárias.
“Eu nasci na mata virgem, me criei na mata bruta”, cantaram e dançaram as mulheres do coletivo numa emocionante apresentação em homenagem aos ancestrais e à Pindorama, terra indígena, hoje chamada Brasil. Elas pediram licença aos ancestrais, à memória de luta e reafirmaram posicionamento Não ao Marco Temporal e pela Demarcação das Terras Indígenas Já. Ao longo da noite, vídeos, fotos dos trabalhos artísticos, falas e expressões artísticas foram realizadas como intervenção do coletivo.
Para conferir o trabalho do coletivo e das lutadoras que o compõe, clique e acesse:
Toca da Onça
Coletivo Abya Yala Tecido Pindorama
Organizações
No terceiro bloco, as organizações ABEPSS, CFESS, ENESSO e CRESS-SP realizaram falas sobre o tema central da noite. Tânia Maria Ramos De Godoi Diniz, da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), explanou sobre o avanço do capitalismo na exploração do meio ambiente e da força de trabalho na desterritorialização dos povos indígenas e das periferias da cidade. Ela reafirmou a defesa da democracia e das políticas públicas, e de uma formação crítica e contínua das/os/e Assistentes Sociais que reverbere na prática cotidiana da categoria. Defendeu a unidade das lutas sociais necessárias pelo fim do capitalismo. E, por fim, saudou a categoria no Dia de Assistente Social: “Viva ao serviço social brasileiro que se mantem na trincheira da luta emancipatória”, disse Tânia Maria Diniz.
Kelly Melatti, Conselheira Presidente do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) – na Gestão “Que Nossas Vozes Ecoem Vida-Liberdade” (2023-2026), expressou um grande abraço a toda gestão do CRESS-SP, seccionais, trabalhadores e trabalhadoras do CRESS e saudou o patrimônio para as lutas do serviço social.
“Defender a justiça ambiental para enfrentar a injustiça social é unânime no Brasil”, disse Kelly Melatti ao lembrar o quanto a degradação ambiental afeta nossa existência.
A presidenta do CFESS refletiu sobre os desafios da atual conjuntura na capacidade de leitura da realidade e de organização política. Ela convocou as/os/e assistentes sociais a serem firmes e não negociarem princípios.
Por fim, Kelly reverenciou à companheira Mauricleia Soares e finalizou com uma citação de Pepe Mujica: “Os que comem bem, dormem bem e tem boas casas acham que se gasta demais em políticas sociais”.
Representando a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO), Arthur Silva Pinto de Albuquerque trouxe diversos dados jurídicos que formam o conceito de justiça ambiental: “Juridicamente falando, todas as pessoas, físicas ou jurídicas, respondem igualmente por crimes ambientais”, demonstrou Arthur Albuquerque a igualdade de responsabilidades perante à natureza.
Aparecida Mineiro, assistente social e atual Presidenta do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-SP), apresentou a composição da gestão do CRESS. Reafirmou manter o compromisso com a categoria numa conjuntura de avanço da extrema direita no mundo inteiro. “Vivemos um tempo em que é preciso estarmos atentos e fortes. Acima de tudo, atuantes e resistentes na defesa dos direitos sociais”, disse Aparecida Mineiro.
A presidenta ainda lembrou sobre os espaços a serem ocupados no fortalecimento das lutas das/os/e assistentes sociais como a atuação no conjunto CFESS-CRESS, nas seccionais, comissões GT’s, assembleias e em todos os espaços para serem animados e construídos.
Aparecida Mineiro finalizou dedicando a live in memoriam a toda/o/es Assistentes Sociais e saudação a Fran e a Mauri!
A crise capitalista e os impactos ambiental
No quinto momento da noite, houve a mesa temática de discussão A crise capitalista e os impactos ambientais: garantir justiça ambiental é compromisso ético-político e bandeira de luta de assistentes sociais.
Participaram da mesa Júlio Cezar De Andrade, mestre em Serviço Social; Cauê Tanan, Indígena Kariri, professor e historiador; Manuela Aquino, doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos e integrante da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Júlio Cezar de Andrade, resgatou o início do racismo ambiental: “O racismo ambiental chegou aqui através das caravelas”, e elucidou as novas formas de colonialismo: a mineração, o agronegócio, a especulação imobiliária que afetam a dimensão da vida dos povos tradicionais e periféricos.
Cauê Tanan explicou como a intensa exploração de petróleo aliada ao consumo desenfreado mundial tem impactado a vida da população, em Ilhabela (SP), contribuindo para o aumento da temperatura, inclusive marítima: “Este ano foi especialmente quente. O mar que circunda a ilha, estava quente igualmente. Não havia onde se refrescar. O fato da terra estar aquecendo e resfriando, como uma respiração da terra”.
Para ele, este momento de aquecimento global possui algo estranho: “O ser humano resolveu fazer outro tipo de exploração que é a industrial, fazendo com que aumentasse cada vez mais a temperatura. Essa exploração industrial fez com que devastasse muitos povos no mundo e tem feito com que sofremos cada vez mais. Essa sensação de fim de mundo que pega não só os povos originários e povo periférico. Mas, quando pega as classes médias, altas e brancas, aí o fim de mundo é um problema”, falou Cauê.
Manuela Aquino trouxe dados da Pastoral da Terra, onde há registro de 2.135 conflitos no campo brasileiro, maior índice desde 1975. Segundo as pesquisas, as maiores vítimas são os povos indígenas e os povos sem-terra.
Toda essa opressão está combinada com diversos fatores como uma crise forte econômica, a uberização do trabalho, aumento do desemprego. A crise ambiental se imbrica com as diversas violências cometidas pelas ações truculentas da Polícia Militar no Estado de São Paulo, e no mundo com o aumento de genocídios, como na Palestina e os processos imigratórios. Quanto ao racismo ambiental, para ela, “No Brasil não é possível falar disso sem falar do agro, hidro e minério-negócio. O processo de não democratização da terra, de controle de nossas sementes também faz parte desta crise ambiental”.
A noite em comemoração do Dia de Assistente Social continuou com relatos da atuação de profissionais em situação de calamidade, intervenções artísticas e muitos comentários críticos de quem assistia a live pelo chat.
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