Em evento on-line, Comissão de Formação Profissional do CRESS-SP debateu com assistentes sociais, estudantes e docentes quais devem ser os principais direcionamentos da atuação do Fórum. Leitura crítica da conjuntura, ações concretas e apropriação das TICs entraram na pauta
A Comissão de Formação Profissional do CRESS-SP realizou no sábado, 24/10, a Reunião Ampliada para Criação do Fórum Sudeste em Defesa da Formação e do Trabalho Profissional. O evento on-line deu os primeiros direcionamentos no Estado de São Paulo para a criação de um fórum da região Sudeste voltado ao debate da formação e do trabalho profissional de assistentes sociais, e contou com a presença de estudantes e docentes de Serviço Social e de profissionais de diferentes cidades paulistas.
“A Reunião Ampliada, que tinha como objetivo central discutir as bases para a criação do Fórum, promoveu um debate muito profícuo, possibilitando uma análise de conjuntura, realizada pelo Prof. Dr. José Fernando Siqueira da Silva, fundamental para embasar nossas discussões sobre trabalho e formação articulados às particularidades do Estado de São Paulo, de modo a suscitar que pensássemos alguns elementos que poderão direcionar a criação do Fórum Sudeste”, avalia Ana Léa Martins Lobo, da Direção da Comissão de Formação Profissional do CRESS-SP. A assistente social destacou durante o encontro que o Fórum é um espaço a ser construído coletivamente.
A realidade como ponto de partida
Em sua palestra, José Fernando destacou que é importante reconhecer como o quadro atual de conservadorismo reacionário, criminalização dos movimentos sociais, da esquerda e da oposição, desmoralização da democracia política, trabalho ultraflexibilizado e devastação dos direitos aparece no contexto da formação e do trabalho, especialmente para assistentes sociais.
Segundo o professor, no campo da formação, há o desafio antigo do Ensino à Distância (EaD) e do processo de privatização, inclusive nas universidades públicas, problema enfrentado já nos cursos presenciais. “Isso, com a pandemia, agrava-se, no âmbito das tecnologias remotas. Esse é um momento para que, de fato, o EaD se imponha”, considerou José Fernando, ressaltando a história de luta do Serviço Social pela formação de qualidade e contra o EaD. O professor ainda propôs alguns princípios norteadores para a atuação do Fórum, como a revitalização da crítica ao capitalismo, ter um debate latino-americano internacionalista e a capacidade de articulação e união entre as diferentes gerações de assistentes sociais.
Maria Borges, da Direção da Comissão de Formação Profissional do CRESS-SP, citou a criticada “pedagogia das competências”, também predominante no processo de formação de assistentes sociais. “Diz-se ‘hoje você forma para o desemprego’, para essa ideia do ‘empreendedorismo’, reforçando, inclusive, a perspectiva da meritocracia. Quando a gente traz isso para o Serviço Social, é um impacto avassalador”, afirmou durante sua explanação. Ela destacou o desmonte do trabalho profissional, que inclui a passagem do trabalho complexo, para o qual o/a assistente social deveria ser formado/a e voltar a sua atuação, para o trabalho simples, que reduz essa atuação a atividades executivas, administrativas, burocráticas, “tarefeiras”. “Eliminando, realmente, as possibilidades de todo o potencial que, com certeza, apesar das dificuldades, a gente tem como trabalhador/a especializado/a”, concluiu.
EaD, ensino remoto e TICs no centro do debate
A preocupação com o avanço do EaD e do ensino remoto na formação profissional de assistentes sociais, que ganharam novo impulso durante a pandemia da COVID-19, inclusive com a oferta de estágio remoto por algumas universidades, deu o tom do debate. A necessidade de pensar as diferenças entre o ensino remoto e o EaD foi lembrada, enquanto a fala comum foi a da importância de absorver as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em favor da formação e do trabalho profissional e de assimilar o que foi aprendido do ensino remoto e EaD na volta ao presencial. Com a pandemia, na impossibilidade de retorno a este modelo e de concluir estágios e a formação profissional presencialmente, o professor José Fernando destacou que é preciso ter uma discussão responsável sobre o que pode ser feito objetivamente, agora, com garantias razoáveis para o acesso ao ensino remoto e EaD com dignidade.
“A precarização não está só no EaD”, salientou Ana Léa, para quem essas tecnologias devem ser usadas como ferramentas para aprimorar a comunicação, aproximar o debate dos/das profissionais e aproximar assistentes sociais a outros movimentos. “Como a gente utiliza criticamente as tecnologias para agregar, juntar, crescer e expandir. Para mim, um direcionamento do Fórum tem que ser pensar essa forma e conteúdo, e de que maneira a gente também articula outras pessoas, chama outros profissionais”, propôs.
Juliana Fraccaro, estudante, membro da gestão da ABEPSS na representação discente e da ENESSO — Região VII, sublinhou que o ensino remoto em curso no momento, operando como uma espécie de EaD precarizado, não é o ensino e a forma de aprendizagem desejados e nos quais se acredita. “Que educação, que formação, que Serviço Social e trabalho profissional a gente defende. Qual a educação e qual o trabalho profissional que o Serviço Social defende”, pontuou como questões centrais no horizonte da criação e atuação do Fórum.
As discussões também trouxeram reflexões sobre a alienação que prejudica a formação profissional, a falta de engajamento dos/as assistentes sociais nas ações e movimentos da categoria e a necessidade de se abandonar a visão romântica do Serviço Social e partir para o campo das ações reais, concretas, tendo a crítica como fundamentação para o que pode ser feito objetivamente em prol da formação e do trabalho profissional.
Direcionamentos
A reunião elaborou 8 indicações gerais para a construção do Fórum: 1) Deixar nítido qual a perspectiva de trabalho e formação que o Fórum irá defender; 2) Não desvincular trabalho e formação, a partir de uma perspectiva crítica; 3) Refletir sobre a utilização das TICs no processo de trabalho de uma forma crítica, com vistas a contribuir para a articulação profissional; 4) Articulação com outros movimentos sociais que se colocam em defesa da Educação Pública, de qualidade, presencial, socialmente referenciada; 5) Necessidade de uma articulação mais ampla com trabalhadores/as sociais e estudantes de toda a América Latina; 6) Investir em unificar as pautas de esquerda e buscar articulação com setores progressistas; 7) Criação de estratégias que ampliem o diálogo com a categoria sobre as nossas defesas; 8) Evidenciar o contexto em que se insere o trabalho do/a assistente social na atualidade, com vistas a compreender as contradições do mundo do trabalho e os impactos desse processo no cotidiano do trabalho profissional.
Há a previsão de Reunião Ampliada com os outros CRESS do Sudeste, mas ainda sem data definida.